Ato “Vidas negras importam” denuncia genocídio da população negra

Luto e luta.

Mais uma vez, o lamento e a denúncia se misturaram em um ato que ocupou o centro de Juiz de Fora nessa chuvosa segunda-feira, 15 de abril. O assassinato do músico Evaldo Rosa dos Santos, alvejado com 80 tiros pelo exército brasileiro no dia 7 de abril, levou sindicatos, coletivos, partidos políticos, movimentos sociais e pessoas independentes a protestarem contra o genocídio da população negra no Brasil. “Estão nos matando, nossos corpos carregam alvos. Estamos morrendo física e simbolicamente, nos matam e nos esquecem, com a banalidade de uma estatística perdida no dia seguinte”, disse uma das organizadoras, Lucimara Reis, do 8MJF.

Em uma fala emocionada, o diretor da APES Jalon Vieira, afirmou a luta da entidade no enfrentamento da violência contra negros e negras do país, violência que tem como pano de fundo uma enorme desigualdade sócio-econômica.  “A desigualdade no país é absurda, e a gente pode apontar essa desigualdade por uma série de indicadores.  A desigualdade salarial; a população negra tem uma diferença muito grande daquilo que está relacionado aos rendimentos, às possibilidades de viver uma condição melhorada de suas vidas. O salário de trabalhadores negros corresponde a 50% do salário do trabalhador branco.  A violência sofrida pela mulher negra, que tem poucas condições, que vive a violência doméstica, que tem o problema de feminício… Os jovens negros e negras, que tem dificuldade de acesso a uma educação de qualidade , de ter perspectivas e expectativas para suas vidas. A gente tem aproximadamente 70% da população carcerária no Brasil formada por negros e negras. Dos 14 milhões de pessoas desempregadas, quase 70% são negras. A gente vive hoje – e eu falo isso por ser negro também –numa condição muito desigual. Uma condição que não nos dá a possibilidade de contribuir de uma forma diferenciada com esse nosso país. Falo hoje aqui pela APES e estamos aqui para enfrentar este problema da melhor forma possível.”

Cortejo

O ato saiu da Praça da Estação em direção ao Parque Hallfed. O cortejo foi realizado ao som do “hino da África”, tocado pelo grupo Maracatu Estrela da Mata. No cruzamento da Avenida Getúlio Vargas, uma contagem até 80 foi feita ao ritmo do “gonguê”, representando os 80 tiros que mataram Evaldo.

Em frente à Câmara Municipal de Juiz de Fora, foram acedidas velas e depositadas cruzes com nomes de pessoas negras assassinadas, em especial em Juiz de Fora. Parentes de algumas pessoas assassinadas também falaram no ato, além de entidades representativas de trabalhadores e trabalhadora. Performances artísticas amplificaram o discurso político através das intervenções poéticas do Coletivo Sararau Crioulo e da Confraria dos Poetas, da performance teatral da professora Bianca Leite e das projeções do Cine Fanon.

Confira a cobertura fotográfica aqui.