Professores relatam precarização do trabalho

Desde a sua inauguração, em novembro de 2012, o campus avançado da UFJF de Governador Valadares funciona no prédio da Faculdade Pitágoras, instituição privada de ensino. O espaço é compartilhado. A UFJF ocupa as instalações na parte do dia, e a Faculdade Pitágoras durante a noite. O aluguel do prédio é uma solução provisória, anunciada pela UFJF em fevereiro de 2012. A previsão era de que a construção do novo campus seria iniciada no segundo semestre de 2013. No entanto, a obra foi embargada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) após uma empresa, que participou da licitação, ter questionado o processo e entrado com uma representação.

A extensão dessa solução provisória preocupa os professores, que relatam as condições de trabalho precárias no prédio alugado. A categoria enfrenta dificuldades em relação ao tamanho reduzido da sala dos professores e das coordenações. “Temos que nos revezar quanto ao uso das mesas, computadores e impressoras”, explica um docente, que prefere não ser identificado para evitar represálias. Além disso, o edifício está localizado próximo a um pátio ferroviário. Estudantes e professores sofrem com a intensidade do barulho e da vibração, causada pela passagem dos trens. “A maior parte dos docentes, em regime de dedicação exclusiva, não fica no local em tempo integral. Parece um ‘colegião’. Nós chegamos, ministramos nossas aulas e vamos embora. Vários colegas, desestimulados com a situação, fizeram concursos e foram para outras instituições. O mesmo acontece com bons alunos”, observa o professor.

“A solução provisória, com o aluguel desse prédio, deveria assegurar o padrão unitário de qualidade do ensino. Mas isso não tem ocorrido em Governador Valadares. O alongamento dessa situação é um problema grave”, avalia a professora Clarice Cassab, secretária geral da APESJF-SSind. Acompanhada pela diretora do sindicato, Amanda Pinheiro, e pelo assessor jurídico, Leonardo de Castro, Clarice esteve em Governador Valadares em abril.

A APESJF-SSind insiste no agendamento de uma audiência com o reitor da UFJF, Henrique Duque, para tratar dos problemas de Governador Valadares e obter informações sobre o andamento do processo no TCU.

Sem notícias

No último dia 6 de maio, em Governador Valadares, 411 novos estudantes foram recebidos em evento com a presença do reitor da UFJF e do coordenador do campus, Carlos Elízio Barral. Na matéria publicada no site da universidade sobre a recepção dos calouros, não há menção à construção do novo campus.

Obra no prédio alugado piorou a situação

A Faculdade Pitágoras está realizando uma obra de ampliação do prédio. A ausência de qualquer preocupação com as atividades realizadas dentro do edifício, por parte dos executores da obra, piorou ainda mais as condições de trabalho dos docentes.

O barulho intenso durante as aulas foi o primeiro problema constatado. Segundo o relato do professor, “é como se estivessem ‘batendo uma laje’ com os moradores dentro da residência”.

No dia 23 de maio, a situação ficou mais grave. O prédio foi deixado sem cobertura e vulnerável à chuva. Salas de aula, salas dos professores e almoxarifado foram alagados. A água atingiu livros, documentos e equipamentos novos.“O volume de água era absurdo, chegando, em alguns pontos, a cinco centímetros do solo. Cogitamos o risco de desabamento, além dos curtos-circuitos, já que eram evidentes as infiltrações pela laje e a presença de água junto às instalações elétricas”, denuncia o docente.

A obra não tinha autorização da prefeitura de Governador Valadares, e foi embargada no dia 23. Por medida preventiva, os professores suspenderam as aulas nos dias 23 e 24.

Em ofício, encaminhado à Administração Superior da UFJF, os docentes solicitaram a interrupção das aulas até o dia 31. Nessa data, terminaria o prazo, acordado entre os executores da obra e a prefeitura de Governador Valadares, para que os danos causados ao prédio fossem sanados. Porém, o reitor da UFJF desconsiderou o pedido de prudência da comunidade acadêmica.

No dia 28, a chuva causou novos transtornos. Infiltrações foram identificadas em vários pontos do prédio. Embora os problemas não tenham sido tão graves como na semana anterior, a permanência dos docentes no prédio foi novamente prejudicada. “Justamente os nossos espaços, salas dos professores e coordenações, foram os lugares mais afetados”, explica o docente.

Unidos

O ANDES-SN já tem conhecimento da situação em Governador Valadares. O alagamento no campus ganhou repercussão nacional e foi noticiado por outras seções sindicais.

A APESJF-SSind permanecerá atenta. O sindicato trabalha na produção de um dossiê sobre a precarização do trabalho no IF Sudeste MG e na UFJF, e, em particular, no campus de Governador Valadares. A APESJF-SSind reforça seu apoio total aos professores de Governador Valadares, e ressalta a importância de toda a categoria permanecer unida na luta por melhores condições de trabalho. Essa é uma bandeira de todos os docentes.