A situação da pandemia na região da Zona da Mata

A pandemia do coronavírus segue forte no Brasil sem dar sinais de enfraquecimento e sem alarmar o poder público e o empresariado, que seguem pressionando pelo retorno cada vez mais intenso das atividades em todos os setores da economia e do setor público. Em Minas Gerais isso é representado pelo programa Minas Consciente.

Mas quais são os indicativos da situação da pandemia em nossa região? Há possibilidade de reabertura dos espaços públicos e até retorno das atividades presenciais nas escolas? Qual tem sido o papel das instituições de ensino superior nesse processo? Buscando elucidar estas questões, conversamos com Hélder Antônio da Silva, Professor do Instituto Federal de Educação – Campus Barbacena, no curso de administração e na pós-graduação em Planejamento e Gestão de Áreas Naturais Protegidas, membro do Comitê de Acompanhamento e Avaliação da COVID-19 do IF Sudeste MG, campus Barbacena e do Laboratório de Biologia da Conservação, que produz relatórios periódicos acerca da situação do coronavirus na região. Acesse aqui o relatório mais recente.

Confira na íntegra:

Qual é atualmente o quadro geral da pandemia do coronavírus em Juiz de Fora, Barbacena e região, a partir dos relatórios elaborados pelo Comitê de Acompanhamento e Avaliação do IF Sudeste MG?

Em relação ao atual quadro da pandemia do coronavirus em Juiz de Fora, Barbacena e região, o que a gente pôde constatar através das análises dos dados referentes ao dia 8 de agosto, é que, nesse momento, temos uma pequena tendência de estabilização em Barbacena em termos de índice de letalidade. Em Juiz de Fora, houve um aumento desse índice, assim como Santos Dumont, devido à constatação de mais 4 óbitos durante a semana passada. E São João Del Rey está com uma pequena tendência de alta também. Então, de forma geral, o que a gente constata na análise dos dados até o dia 8 é uma tendência de elevação do número de óbitos e uma elevação no número de casos confirmados na nossa região.

De acordo com esses mesmos relatórios, como você analisa a progressão da doença a partir da adesão dos municípios de Juiz de Fora, Barbacena, Zona da Mata e região ao programa Minas Consciente no mês de maio? 

Bem, o que a gente percebe em termos de progressão no momento é que esses municípios têm uma tendência realmente de alta, tirando a parte de Barbacena que está um pouco mais na linha reta em termos de índice de letalidade, o que significa que o número de óbitos e o número de casos confirmados estão mais ou menos em uma linha reta. Os demais municípios têm uma tendência de uma pequena elevação para os próximos 5 dias em termos desses dados no geral. Essa questão da adesão ao Minas Consciente, o que se percebe é que as pessoas estão fazendo aglomerações, não estão respeitando o distanciamento social, com as lojas já abertas nessas cidades. Infelizmente, pelos números que nós temos, avaliamos um aumento dos casos confirmados e consequentemente do número de óbitos. Talvez o número de casos confirmados aumente mais que o índice de letalidade, já que o que a gente percebe é que essas aglomerações têm sido provocadas mais por pessoas na faixa etária entre 20 e 40 anos, e nesse grupo, a mortalidade não seria tão grande.

Como está se dando a relação do Instituto Federal – Campus Barbacena com o poder público municipal em ações de combate à COVID-19? 

No que se refere à relação do Instituto Federal – Campus Barbacena com o poder público municipal, tem uma vereância na cidade, na qual os assessores têm acompanhado nossos relatórios, não sei se esse vereador faz parte do comitê de enfrentamento com o município. Mas, no geral, o que a gente percebe nos municípios em que o Instituto Federal tem unidades, é uma relação muito mais do Instituto Federal com organizações não governamentais que têm dado apoio a várias atividades. Mas com o poder público, principalmente prefeitura municipal e secretaria de saúde, a gente não vê essa relação mais próxima. Na nossa parte, no laboratório de Biologia da Conservação, esse relatório é divulgado nos sites das instituições não governamentais, mas em termos de poder público de maneira formal, não temos sido procurados. Também não percebo esse tipo de ação em outros municípios em que temos feito as análises, pelo menos nesse momento. 

Desde o início da pandemia, a curva brasileira de óbitos e número de novos casos só cresce ou, no limite, se mantém estabilizada em um número alto de notificações. Mesmo assim, as políticas públicas governamentais têm sempre o horizonte de flexibilizar cada vez mais a abertura de ambientes públicos. Como você avalia essa flexibilização em relação a nossa curva de casos no Brasil e na nossa região?

Em relação a nossa curva, em se tratando de Brasil e Minas Gerais, ela vem em um momento de ascendência, principalmente no estado. Nós não chegamos no nível de estabilização dos números. O que a gente percebe em termos de acúmulos dos números, é que ainda estamos na primeira parte da ascendência da curva exponencial. Vemos isso crescendo cada vez mais, infelizmente. 

Então o que vários especialistas têm colocado é que essa flexibilização tem sido prematura nesse momento, principalmente da forma que tem sido feito, que leva as pessoas a aglomeraram, não usarem máscaras, fazerem todo o tipo de atividade ao ar livre, por exemplo a gente percebe as pessoas indo à praia, indo para festas, participando de aglomerações sem máscara. E nesse momento de números elevados, acredito que a flexibilização não deveria ser tão grande, seria o momento de estarmos restringindo um pouco mais a abertura de alguns estabelecimentos comerciais, para evitar a aglomeração, pois infelizmente as pessoas não estão tendo consciência do distanciamento. Eu acredito que isso possa vir a ampliar o número de óbitos e o número de infectados. 

E quando você tem a flexibilização e volta atrás, as pessoas não recuam, elas vão continuar sempre a buscar as aglomerações, como se não houvesse mais nenhum problema com a Covid-19. É uma situação muito complexa, eu diria que para frente a gente vai ver que infelizmente os municípios, na figura dos prefeitos, poderiam ter feito algo um pouco mais robusto e incisivo para evitar essa propagação. O que a gente percebe é que infelizmente com essa aglomeração e abertura do comércio, por mais que diga que está tomando as medidas de segurança as pessoas infelizmente não respeitam.

Os alunos da rede municipal já estão em regime de aulas remotas desde abril. Dado que alguns municípios já esboçam planos de retorno presencial das aulas, qual o cenário na região?

Em relação às aulas da rede municipal da região, o que constatei é que elas realmente devem continuar. Existe uma previsão de retorno às aulas presenciais, pelo menos aqui no município de Barbacena, para agora em meados de agosto, mas isso aparentemente não deve acontecer, então estamos seguindo com aulas remotas. O que eu percebo é que os estudantes estão com dificuldades de acompanhar as aulas, principalmente por conta da internet local. Isso têm acontecido com vários estudantes da rede municipal, e acredito que também na rede estadual. Então o cenário que eu percebo para a região, tirando as escolas particulares que já têm feito esse ensino remoto antes mesmo de começar no município, é que esse retorno presencial das aulas não deverá acontecer pelo menos até antes de setembro aqui na região, e muito possivelmente deverão dar continuidade com as aulas remotas, principalmente para ensino fundamental e ensino médio que são focos do Município e do Estado. Na minha opinião sincera, eu penso que antes de termos uma segurança com as vacinas, as aulas não deveriam retornar presencialmente mesmo que tenha toda a segurança das escolas, que estão se esforçando para tomar as medidas. Mas principalmente nessas escolas municipais que têm um grande número de estudantes, vejo isso um fator muito complicador, então eu acredito que antes de termos uma vacina não será viável o retorno presencial.

Quais têm sido as ações empreendidas pelo Instituto Federal  – Campus Barbacena no combate à pandemia no município? Como essas ações têm envolvido a comunidade acadêmica local?

Com relação às ações que o Instituto Federal tem empreendido, temos muitas ações de extensão que envolvem a comunidade local do tipo: produção de material de limpeza (sabonete líquido e álcool em gel) para distribuição às famílias em situação de vulnerabilidade e as produções de máscaras. 

Em Santos Dumont tem um projeto muito interessante de produção e distribuição de protetor facial de acetato e acrílico, e isso principalmente para a rede de hospitais públicos e profissionais da área de saúde que estão na linha de frente. Para eles, é um equipamento de proteção individual. São João Del Rey tem um projeto de extensão muito interessante também no qual é feita a coleta de lixo de pessoas contaminadas e esse lixo tem um tratamento totalmente diferenciado, que não é recolhido juntamente ao lixo doméstico. Existem várias ações do Instituto Federal nas várias cidades em que nós temos os campi, cada qual com os projetos de extensão, que são projetos financiados pelo próprio Instituto Federal com uma verba específica para esse tipo de ações. Todos os projetos foram avaliados por uma equipe de professores em termos de sua viabilidade e esses projetos seguem tendo um aporte muito grande das pessoas das comunidades, em termos, não somente de receber o material, que é o foco desses projetos, mas também de ações de apoio na distribuição desses materiais, no geral envolvendo associações de bairro nos projetos. 

Tem sido bastante frequente a utilização desses projetos para envolver não somente a comunidade acadêmica, mas também a comunidade externa que necessita desse material. E esses projetos de extensão têm no mínimo 2 bolsistas cada, que estão trabalhando com afinco de forma muito enriquecedora, não apenas para o próprio currículo, mas também em termos de vivência e formação do ser humano como um todo. O foco principal desses projetos de extensão é justamente o apoio ao próximo, principalmente aquele que não tem condições de ter um material de limpeza e de segurança.