Bolsonaro zera caixa do MEC e deixa de pagar bolsistas da Capes, médicos residentes e políticas de assistência estudantil

O governo Bolsonaro deixará sem pagamento 14 mil médicos residentes de hospitais federais e cerca de 200 mil bolsistas de pós-graduação. A falta de recursos para pagamento das bolsas foi informada pelo atual ministro da Educação, Victor Godoy, à equipe de transição, na primeira reunião com o governo sobre a área de educação realizada nesta segunda-feira, 5 de dezembro. 

A CAPES publicou uma nota nesta terça-feira, 6 de dezembro, informando ter sofrido contigenciamento do Ministério da Economia, obrigando a agência a tomar “medidas internas de priorização”. Informa também que foi surpreendida com a edição do Decreto 11.268, de 30 de novembro, que zerou por completo a autorização para desembolsos financeiros durante o mês de dezembro”. Segundo a Capes, as medidas, impostas também a todos os MInistérios e universidades, retiraram “a capacidade de desembolso de todo e qualquer valor – ainda que previamente empenhado – o que a impedirá de honrar os compromissos por ela assumidos, desde a manutenção administrativa da entidade até o pagamento das mais de 200 mil bolsas, cujo depósito deveria ocorrer (…) até o dia 7 de dezembro”. A nota afirma que a entidade cobrou das autoridades a desobstrução imediata dos recursos.

A Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) publicou uma nota nesta terça-feira, 6 de dezembro, convocando a mobilização de pós-graduandos e pós-graduandas. A entidade indicou a organização de plenárias nas instituições nesta quarta para organização de um Dia de Paralisação Nacional dos Pós-Graduandos hoje, 8 de dezembro, até que as bolsas de estudo sejam pagas. A Associação afirma que “dispenderá todos os esforços para garantir o pagamento das bolsas via jurídica e/ou em articulação com o Congresso Nacional”.

Seguindo as orientações nacionais, a APG-UFJF realiza paralisação e atos no dia de hoje, com apoio da APES. Às 11h, houve uma mobilização na reitoria da UFJF, com a presença da diretora da APES, professora Joana Machado. Às 18h, será realizado um ato público no Parque Halfeld.

Ato na manhã de hoje, na reitoria da UFJF, com representantes da APG, APES e Sintufejuf. Fotos: APG.

Transição 

A falta de recursos para a educação, porém, é generalizada. Bolsonaro congelou todos os pagamentos do MEC em dezembro. A decisão atinge todas as unidades vinculadas à pasta, inclusive a rede federal de ensino superior. Mensagem do Tesouro Nacional encaminhada ao MEC e unidades, de 19h37 da última quinta-feira (1º), indica que o governo “zerou o limite de pagamentos das despesas discricionárias do Ministério da Educação – MEC previsto para o mês de dezembro”.

Segundo o coordenador da equipe de transição no setor da educação, Henrique Paim, a  maior preocupação é não ter como pagar os serviços já executados para o MEC,recursos que deveriam ser pagos até o fim do ano, mas que estão inviabilizados após decreto de Bolsonaro zerar o caixa do Ministério. Com a atual situação, diversas universidades anunciaram a impossibilidade de funcionamento no mês de dezembro. Além dos impactos nas despesas cotidianas, como manutenção, limpeza e segurança, algumas instituições afirmam não ter condições de manter políticas de permanência estudantil, como bolsas de assistência e contratos de Restaurantes Universitários. 

Outra grande preocupação é com o futuro. A avaliação do governo de transição é que o governo Bolsonaro deixa um déficit orçamentário entre R$ 12 e R$ 15 bilhões para o Ministério da Educação, em 2023. A equipe de transição está incluindo despesas como recomposição para as universidades, merenda escolar, assistência estudantil, bolsas e residência no âmbito da PEC de transição, que deve ser votada nesta quarta-feira e que poderá  PEC busca retirar o Bolsa Família do teto de gastos.

Na quinta-feira, o ANDES-SN participou de uma reunião com a equipe de transição e entregou  o documento “Onze pontos programáticos em defesa da Educação Pública”, redigido com base na carta compromisso encaminhada pelo ANDES-SN às candidatas e aos candidatos à presidência do campo progressista, incluindo Lula, ainda durante o processo eleitoral que resultou na vitória do petista. Essa carta foi uma deliberação do 65º Conad, realizado em julho deste ano.