Censura no campus JF do IF Sudeste MG: DCE é impedido de distribuir panfletos em defesa da educação e pelo Fora Bolsonaro 

Entidades repudiam atitude e exigem explicações

Na manhã de terça-feira, integrantes do Diretório Central dos Estudantes foram impedidos de realizar uma panfletagem no Campus JF do IF Sudeste MG. Segundo a coordenação do DCE, “a ordem partiu da direção do campus, que orientou o funcionário responsável pela portaria a não permitir a entrada dos panfletos”. Os representantes do DCE puderam entrar para conversar com os estudantes, mas os panfletos ficaram retidos na portaria e devolvidos na saída. Após recolherem o material, os e as estudantes foram questionados pelos vigilantes se não havia mais panfletos na mochila*. Os panfletos, que defendem a educação, se colocam contra os cortes orçamentários e pedem o “Fora Bolsonaro”, têm a assinatura com as logos da APES, do Sintufejuf, do DCE e da Associação de Pós Graduandos da UFJF, que são entidades representativas de Estudantes, Técnicos Administrativos em Educação e Docentes. 

A APES condenou a atitude como um ataque à liberdade de pensamento. “A panfletagem faz parte da democracia e da luta por direitos. Já é uma tradição entre entidades representativas, para a comunicação direta com suas bases, de forma autônoma e independente. Nunca vimos sua proibição nas instituições em Juiz de Fora, desde o fim da ditadura militar. A ação é lamentável e representa um obstáculo a mais na luta pela educação, dialogando com iniciativas inconstitucionais como o projeto “Escola sem Partido”. Como se não bastasse um governo federal inimigo da educação, que asfixia financeiramente as instituições, que nomeia interventores, que rebaixa os salários dos servidores públicos, que ataca quase que diariamente professores e professoras das IFE, agora enfrentamos a censura dentro de uma instituição pública e democrática como o IF Sudeste MG. E pior, esse evento não é isolado já que a direção do campus Juiz de Fora impediu outra vezes a veiculação de material produzido pela APES com a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” na instituição. Ou seja, hoje não existe liberdade de pensamento, de expressão, de ensino e de posicionamento político no Campus Juiz de Fora do IF Sudeste MG. É preciso fazer a denúncia, intensificar nossas ações e continuar no papel de defesa intransigente do IF Sudeste MG, de forma autônoma e independente, reafirmando em todos os lugares e a todo dia o Fora Bolsonaro”  disse Augusto Cerqueira, da direção da APES.

 O DCE repudiou a atitude, defendendo os espaços educacionais como plurais e democráticos. “O direito à manifestação é uma garantia da constituição federal de 1988 e um pilar da democracia brasileira e ela não pode sofrer qualquer tipo de restrição. Foi o que aconteceu com o DCE. Nós conversamos com os alunos sobre isso e eles disseram que  também não podem mais fazer manifestação na porta ou dentro do instituto federal, o que é um absurdo. O movimento estudantil tem autonomia para fazer as manifestações. Não podemos voltar ao tempo da ditadura onde tudo era censurado. Não podemos deixar que as universidades, os Institutos Federais, que são ambientes criados para o livre debate, para o pluralismo, para a formação do cidadão, sejam censurados. Nós do DCE repudiamos  a atitude tomada pela direção do IF Sudeste MG”, disse Maria Edna, da coordenação do DCE.  

O Sintufejuf defendeu a necessidade de que o Instituto Federal dê explicações. “É muito importante que a direção do Campus Juiz de Fora explique o que aconteceu e o que motivou essa atitude, porque, nos dias atuais, vem se intensificando a tentativa de, ao promover cortes orçamentários no financiamento de políticas públicas, ao se efetivar a retirada de direitos dos trabalhadores, calar as vozes que se organizam para protestar contra esse estado de coisas. Isso vem em projetos como escola sem partido, em tentativas de desfinanciar as entidades sindicais, em diversas formas diferentes. Não podemos compactuar com esse tipo de coisa. Precisamos garantir que os estudantes e trabalhadores possam se manifestar politicamente acerca do que está acontecendo no nosso país”, disse Flávio Sereno, da coordenação do Sintufejuf.

*ERRATA

Na publicação anterior, o trecho em questão afirmava que as mochilas foram revistadas pelos vigilantes, o que não aconteceu.