Ciclo de Palestras encerra o Mês da Consciência Negra, com reflexão e conversa

O Ciclo de Palestras organizado pela APES  e Sintufejuf, para marcar o mês da Consciência Negra,  recebeu na quarta-feira, 30 de novembro, a Coordenadora de Políticas para as Mulheres da Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura de Juiz de Fora, Samara Miranda, falando das mulheres nas escolas de samba; a militante do movimento negro, Rita Félix, do Departamento de Memória e Patrimônio Cultural da FUNALFA, conversando sobre as políticas de cotas, e a ativista Adenilde Petrina, debatendo a cultura Hip Hop como forma de resistência. A mesa foi aberta pela coordenadora do Sintufejuf, Maria Ângela Costa, que ressaltou a necessidade de luta contra o atual governo que, segundo ela, ainda pode fazer muitos estragos, atacando a classe trabalhadora e seus direitos, e pela diretora da APES, Raquel Portes, que destacou a importância das ações antirracistas, por meio da luta pela implementação de políticas públicas que promovam justiça social e o combate à discriminação racial. O evento foi realizado na sede do Sintufejuf, no centro de Juiz de Fora e contou também com um lanche para todos os participantes.

Samara foi até as origens do samba, no final do século 19, para mostrar que a baiana Tia Ciata, famosa pelas festas realizadas em sua casa no Rio de Janeiro, inaugurou a cultura do samba, com a marca das mulheres, o que se reflete até hoje nas Escolas de Samba, que têm a obrigação de manter alas de baianas nos desfiles, sob pena de perder pontos preciosos na acirrada disputa pelo primeiro lugar.

Samara destacou a atuação de várias sambistas como importante forma de resistência feminina, num cenário que foi tomado pelo poder masculino logo depois. Dona Ivone Lara, compositora que recorria a amigos para poder concorrer com seus sambas nas escolas, já que era proibido às mulheres de participar, e que depois pôde desenvolver uma carreira reconhecida por sua importância cultural; Clementina de Jesus, grande sambista que levou, no seu modo de cantar e nas vestimentas, a representação da cultura negra em sua plenitude; Jovelina Pérola Negra, doméstica que cresceu como sambista; Leci Brandão, negra, lésbica, ativista e que levou o samba para a conscientização política.

Rita Félix resgatou um pouco da história da África para mostrar que seus povos, longe da ideia de que eram nações analfabetas, traziam inovações tecnológicas, conhecimentos matemáticos, geométricos e filosóficos importantes. Já dentro da história do Brasil, ela destacou que as primeiras escolas eram frequentadas apenas por brancos da elite, o que já evidenciava um tipo de “cota” que durou séculos. Nas lutas pela emancipação negra, falou da revolta dos Malês, ocorrida logo no início do império, dos quilombos onde havia um tipo de socialismo onde ninguém era deixado de lado, e das lutas dentro da república, chegando até o momento em que o Brasil participa da 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo e a Discriminação em 1995, realizada em Durban, na África do Sul, onde a representação governamental reconhece finalmente o Brasil como país racista. Rita explicou que essa conferência e este reconhecimento tiveram um impacto grande, já que propiciou um início de criação de políticas públicas de reparação, como reformas curriculares para incluir o ensino da história da África nas escolas, a criação do estatuto da igualdade racial e a política de cotas raciais para as universidades e para os serviços públicos. Assim, evidenciou em números os efeitos dessa política que permite a ascensão social pela porta de entrada das Instituições de Ensino, mas argumentou que há muito o que ainda se conquistar no combate ao racismo, na luta não apenas por igualdade, mas por equidade, a qual, ainda assim, esbarra numa realidade de desvio de recursos públicos e de racismo estrutural.

Adenilde Petrina contou a história do movimento social em que ela participou e ainda incentiva e atua dentro da comunidade do bairro Santa Cândida, com a cultura Hip Hop que une o Grafite, como forma de comunicação e protesto, o Rap, com suas rimas que falam dos problemas e anseios dos jovens da comunidade e o Break, que por meio da dança, faz a desconstrução dos corpos enquanto diverte.

Falou a criação da Mega FM, uma rádio comunitária que foi a voz do bairro, onde tudo era decidido democraticamente e que unia a todos, promovendo a cultura, as expressões e trazia diversão, discussão sobre os problemas da comunidade, conscientização e debate de temas a partir das pessoas que eram convidadas a entrevistas na rádio. Ela falou ainda dos questionamentos dos jovens sobre a própria condição intelectual, quando um deles, que era adepto da leitura, conseguiu um livro do pensador italiano Gramisci, e descobriu que eles eram “intelectuais orgânicos”, espalhando essa descoberta entre os amigos e companheiros do bairro. Adenilde finalizou dizendo que o pessoal da resistência política Hip Hop não tem o direito de desistir, buscando sempre no passado e na memória sua identidade, para combater o medo e o desânimo. “Precisamos sempre estar um passo à frente”, disse.