Ignorando ações precursoras das IFES no combate ao coronavírus, MEC solicita plano de ação contra pandemia

Na quarta-feira, dia 18 de março, o Ministério da Educação enviou ofício solicitando informações e a elaboração de plano de ações das Instituições Federais de Ensino Superior para o enfretamento contra a pandemia do coronavírus. Acesse aqui a íntegra do ofício.

Mais uma vez o MEC e o atual governo deixam explícito o grau de descolamento da realidade e ignorância em relação a rede federal de ensino superior. As IFES foram precursoras na suspensão de atividades em todo o país, usando de sua autonomia em detrimento da inoperância do MEC e do Governo Federal, dando exemplo, para os diferentes governos, de ações efetivas para o controle da pandemia. Como exemplo, no âmbito local, a administração da UFJF se reuniu com membros da administração municipal de Juiz de Fora para discutir as ações da UFJF e de possível controle da epidemia na cidade, indicando a disponibilidade de profissionais e estrutura para enfrentar o quadro. Adicionalmente, a suspensão das atividades da UFJF manteve o funcionamento das áreas essenciais, constando entre elas a área da saúde, que deverá atender a população através dos trabalhadores e trabalhadoras do Hospital Universitário, mesmo não possuindo estrutura adequada devido ao estado de precarização.

Para justificar cortes de recursos e retirar direitos da classe trabalhadora, o MEC e o Governo acusam as instituições federais de ensino de fazer balbúrdia, caracterizam membros da comunidade acadêmica como vagabundos e parasitas, afirmam que estes cultivam extensivamente maconha nas universidades. Quanto as ações práticas, cortam recursos da educação, da pesquisa, da assistência social e da saúde. Para piorar, o Governo Federal vem negligenciando completamente a pandemia, ao ponto de o presidente da república declarar se tratar de histeria e da sua comitiva se transformar em um dos maiores vetores de transmissão do vírus no Brasil, ao retornar dos EUA com boa parte das pessoas contaminada. Adicionalmente, as ações anunciadas esta semana pelo Governo Federal indicam despreparo e irresponsabilidade, mostrando que não há nenhuma preocupação real com a pandemia e a população brasileira. As medidas e o pacote do Governo Federal são uma tentativa desesperada de acenar mais uma vez para o mercado financeiro, com ações que visam salvaguardar o lucro do grande capital internacional, mesmo com a grande queda registrada na Bovespa e a perspectiva de mais um ano de grande recessão econômica. O ministro da economia afirmou em coletiva que a solução da crise passa pela aprovação das reformas ultraliberais no Congresso. Ou seja, retirada de investimento público e sua transferência para o grande capital especulativo internacional.

Portanto, nos parece estranho e até mesmo descabido que o MEC, o mesmo da balbúrdia, das plantações de maconha e da recente defesa da utilização do ensino da distância durante a suspensão das aulas, se dirija às IFES solicitando informações e planos de ações em relação ao COVID-19. Em resposta, as IFES deveriam enfatizar que tais ações já estão sendo realizadas, caso não seja do conhecimento do mesmo, e para que tais ações possam ser ampliadas e aumentem a sua efetividade, precisamos de mais recursos públicos e de garantias de longo prazo para o aumento dos investimentos públicos em educação e saúde. Problemas de saúde pública e sociais se resolvem com planejamento e com políticas de investimento de longo prazo. Ações emergenciais são necessárias no momento, mas devemos reforçar que o atual Governo é o principal responsável pelo atual cenário de descontrole da epidemia no país e será responsável pelas mortes que incidirão principalmente na camada mais pobre da população, através de suas políticas de retirada de direitos, do constante ataque aos serviços públicos e da total negligência nesse período de crise.

As IFES não se furtarão a contribuir, diferentemente dos governos, mostrando mais uma vez para a população a razão da existência do serviço público e da rede federal de ensino superior.