Polícia joga bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo sobre famílias sem terra no Sul de Minas

Na tarde de sexta feira, a Polícia Militar lançou gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral sobre as famílias que resistem há mais de 48 horas ao despejo comandado pelo governador Romeu Zema. O Acampamento Quilombo Campo Grande, situado no município de Campo Belo, no Sul de Minas, existe há 23 anos e serve de abrigo, sustento, trabalho e educação para 450 famílias. A reintegração de posse foi emitida pela Justiça estadual, mesmo sob decreto de calamidade pública em Minas Gerais devido à pandemia.

Pela manhã um helicóptero avançou sobre os acampados e acampadas. “São inúmeros direitos humanos sendo violados e exposição de toda região Sul de Minas Gerais à propagação do Corona Vírus. As famílias estão sem dormir ou se alimentar direito. E não há como evitar aglomeração. Há grávidas, idosos e outras pessoas do grupo de risco, completamente expostas ao vírus e à violência policial”, diz o texto enviado pelo MST

Segundo o MST, a área referente ao processo de despejo no Acampamento Quilombo Campo Grande, Sul de Minas Gerais, já foi reintegrada e não há motivo para a permanência da polícia no local. “Uma comissão da assembleia legislativa está a caminho de Campo do Meio para acompanhar o caso e tentar garantir a integridade das famílias. O MST já desocupou a área referente à sede da usina e luta para que casas e lavouras não sejam destruídas. Quantas vidas você pretende ceifar para que a situação se resolva, Zema? Retire suas tropas de lá!”, diz o informe.

Na quinta-feira acampamento foi incendiado

Na tarde de quinta-feira, Policiais Militares atearam fogo no acampamento, com o objetivo de retirar as famílias que resistem à reintegração de posse desde quarta feira.

A situação parecia amenizada na parte da manhã de quinta feira quando, após pressão da sociedade, principalmente das redes sociais, de políticos e das Entidades do Movimento Social, o Governador Zema havia determinado que a força policial recuasse da ação de reintegração de posse. Pelo menos essa era a informação que o governador havia publicado em seu Twitter.

Mas, de acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o governador alega que encaminhou o pedido de suspensão à comarca de Campo Gerais, que, por sua vez, não aceitou o pedido.

As informações do MST, na quinta feira, via Whattsapp, eram de que o acampamento estava sitiado. As pessoas não conseguiam entrar ou sair e, mesmo o transporte de alimentos, tinha que ser feito de modo clandestino, no meio da mata. Segundo essas informações, a imprensa também estava cerceada em seu trabalho. Até o início da noite de quinta feira, mais 200 policiais estavam no local

“A ação mostra mais uma vez a truculência e violência do governo de Minas com os movimentos sociais. No meio da crise que vivemos, desalojar todas essas pessoas, não é apenas uma ação de ataque aos trabalhadores, mas uma arbitrariedade que coloca, em risco de contaminação, famílias de trabalhadores sem terra. Atear fogo ao acampamento está fora de qualquer senso de justiça e humanidade”, disse Augusto Cerqueira, da direção da APES.