SemanAPES ESPECIAL – Marcio Antônio de Oliveira – PRESENTE

Marcio Antônio de Oliveira – PRESENTE

          O professor Márcio Antônio foi um dos articuladores para a fundação da  Associação dos Professores de Ensino Superior de Juiz de Fora em 1978, num momento de coragem de professores e professoras, que entendiam a necessidade de luta pelos direitos dos trabalhadores, pela volta da democracia e por uma sociedade mais justa, em plena ditadura, que dera o golpe 14 anos antes. Desde então, nunca se ausentou da luta, seja na base do movimento, seja participando de inúmeras diretorias do Sindicato Nacional e da APES.


Márcio Antônio no primeiro Congresso do ANDES-SN realizado em Juiz de Fora em 1988

 

“O professor Márcio Antônio foi um dos articuladores para a fundação da  Associação dos Professores de Ensino Superior de Juiz de Fora em 1978”

Logo em 1980,  elegeu-se Presidente, voltando ao cargo em 1985 e no ano 2000. Exerceu ainda os cargos de 2º tesoureiro na gestão 1998/2000, Secretário Geral na gestão 2008/2010 e 2º Secretário na gestão atual do sindicato. No momento, preparava-se para tomar posse como 2º Secretário do ANDES – Sindicato Nacional  – gestão 2016/2018.
Márcio Antônio de Oliveira tornou-se, por sua luta, ideal, atuação e conhecimento de causa, uma referência local e nacional do movimento docente. Talvez tenha levado o sentido da palavra Professor a todos os âmbitos de sua vida, angariando respeito de aliados e adversários políticos. A clareza de suas posições e a sempre sensata análise de conjuntura e do momento político transformou o historiador professor num norteador seguro e sempre disposto a colaborar no movimento sindical.


Márcio fala durante assembleia na última greve docente, em 2015

 

Márcio Antônio de Oliveira tornou-se, por sua luta, ideal, atuação e conhecimento de causa, uma referência local e nacional do movimento docente.

 

Em Juiz de Fora, lutou pela pelas eleições diretas para Diretores e Reitores da UFJF, pela realização da Estatuinte, pela inserção da APES nos movimentos que lutaram pela volta da democracia no país, pela participação dos docentes de Juiz de Fora como protagonistas nas inúmeras greves nacionais, que garantiram a gratuidade e a qualidade do ensino federal, pela união com outros sindicatos que lutavam pela manutenção das garantias trabalhistas entre muitas outras lutas. Sua partida ressoou até no Congresso Nacional, onde o Senador Paulo Paim (PT) leu um voto de pesar: “Perdemos um lutador, um mestre, um defensor da educação pública e dos direitos dos trabalhadores da área pública e da privada, um lutador do ANDES-SN, um exemplo para todos nós. Márcio estará sempre presente em nossas lutas, em nossos corações. Fica aqui esse voto de pesar”. A homenagem pode ser vista clicando aqui.
Notas de pesar e homenagens vieram de várias Seções Sindicais do ANDES, da CSP Conlutas e do próprio Sindicato Nacional, que divulgou novamente o video em sua homenagem, além dos docentes filiados à APES que registraram com tristeza e emoção o falecimento de Márcio. Um pouco da história de sua luta pode ser contada no video comemorativo dos 35 anos da APES

 

“Perdemos um lutador, um mestre, um defensor da educação pública e dos direitos dos trabalhadores da área pública e da privada, um lutador do ANDES-SN”.

Senador Paulo Paim, em leitura no Congresso Nacional

 

PROFESSOR MARCIO ANTÔNIO DE OLIVEIRA – PRESENTE!
Juiz de Fora, 24 de junho de 2016.

          Como nos diz Brecht: “há homens que lutam um dia e são bons, há homens que lutam um ano e são melhores, há homens que lutam muitos e muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. No último dia 13 de junho de 2016 faleceu o Professor Márcio Antônio de Oliveira, companheiro de lutas imprescindível na defesa da universidade e da carreira docente. Um dos fundadores da Apes e do Andes-SN, dirigente sindical, presidente e secretário-geral por diversos mandatos, lutar tornou-se seu modo de vida e sua maneira de existir no mundo, Márcio Antônio era um militante autônomo e combativo.
Integrante da atual Diretoria da Apes, portava-se como ouvinte, interlocutor, debatedor, constituía-se como alicerce fundamental para a entidade. Defensor da educação pública, gratuita e de qualidade, da Universidade como conceito de excelência, espaço de lutas, do exercício da política e crítica social. Era um intransigente defensor da carreira docente, dos direitos dos trabalhadores e da função socialmente crítica da educação.
Para nós da Apes era um amigo – um exemplo! Historiador por formação, tinha o talento de contextualizar a crítica e situar os enfrentamentos políticos. Com uma memória exímia, mapeava os caminhos e descompassos da luta! Gostava de cultura, leitura, arte e cinema. Trazia a luta como prática e exercício de direitos e militou na construção de uma sociedade mais justa.
Para nós, o desejo é que possamos ser herdeiros do seu exemplo cotidiano de luta e coragem por ousar sonhar com um mundo melhor. Seguimos convictos que seu legado e luta tornaram-se exemplos para toda uma geração de professoras e professores do nosso país.

Sentiremos saudades.
           

Diretoria da Apes
Gestão 2014-2016


Posse da atual diretoria que tinha Márcio Antônio como 2º Secretário

 
          No ANDES
No ANDES Sindicato Nacional, Márcio Antônio de Oliveira foi presidente do Sindicato entre 1992 e 1994, secretário-geral do Sindicato Nacional nos períodos de 1986 a 1988 e de 2010 a 2014. Em reportagem publicada no InformANDES de janeiro de 2016, Márcio relembrou algumas das lutas das quais participou pelo Sindicato Nacional ao longo das últimas décadas, como o processo da Assembleia Constituinte. “Foi um movimento muito profundo e detalhado e não tínhamos interesse apenas na educação, fizemos uma plataforma comum, junto às entidades e partidos políticos, para a Constituinte que abrangia educação, saúde, segurança, direitos dos cidadãos, etc. Tivemos uma vitória neste sentido na Constituinte de 1988, onde está prevista a gratuidade do ensino nas instituições oficiais”, afirmou.


Márcio Antônio em reunião com o MEC na busca de negociações

 
Márcio Antônio de Oliveira também comentou, na entrevista, o processo de lutas contra o governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992), momento em que era presidente do ANDES-SN. “O embate foi muito forte com o governo e em 1991 protagonizamos uma greve que resultou na rejeição de um projeto que excluía docentes e servidores das IFE e diversas outras categorias de servidores público federais (SPF) dos reajustes propostos pelo governo”, contou. Para Oliveira, a sua gestão também foi marcada pela legitimação do direito de greve no serviço público e pelo início do processo de construção da carreira docente do professor federal.

 

          Luta contra a ditadura empresarial-militar
Nos últimos anos, Márcio Antônio de Oliveira ajudou a organizar a Comissão da Verdade do ANDES-SN, que apurou os crimes cometidos pela ditadura empresarial-militar no âmbito da educação e lançará, durante o 61º Conad, o Caderno 27 do ANDES-SN “Luta por justiça e resgate da memória”. Defensor veemente da revisão da Lei da Anistia, o docente contou, em entrevista ao InformANDES de abril de 2014, como sofreu com a repressão.
Professor Márcio Antônio de Oliveira fala sobre a Comissão da Verdade do ANDES

 
Ironicamente, o professor que colocava o marxismo no programa de suas disciplinas na década de 70, assistidas de perto por agentes do regime, apenas foi considerado subversivo depois da promulgação da Lei da Anistia. “Eu dei aula e nunca deixei de falar certas coisas, pra não acharem que estava aprontando de forma secreta. Eu dava aula de marxismo, mas procurava sempre tratar como mais um tema. Eu não chamava os militares de golpistas – eu não era doido – mas falava que era um governo autoritário, com leis de exceção, não reconhecido por órgãos internacionais”, afirmou Oliveira.

 

Nos últimos anos, Márcio Antônio de Oliveira ajudou a organizar a Comissão da Verdade do ANDES-SN, que apurou os crimes cometidos pela ditadura empresarial-militar no âmbito da educação

Em 1981, durante uma visita do presidente João Baptista Figueiredo a Ouro Preto (MG), um militante foi preso pela acusação de carregar explosivos para tentar matar o ditador. Como ele seria julgado em Juiz de Fora, a APESJF se reuniu para declarar solidariedade ao preso político. “Mas, ao invés escrevermos uma carta tranquila, usando as prerrogativas da Lei da Anistia, fizemos uma nota chamando a prisão de palhaçada. A APESJF foi acusada de subversão, e eu, presidente da entidade, de chefe da subversão. Foram dois anos de acusação. Quando não conseguiam destruir a pessoa, iam pelas beiradas. Sua família ficava nervosa pela pressão do regime. Não tinham uma argumentação sólida e ainda assim fomos considerados culpados pelo primeiro juiz que julgou, só sendo absolvidos depois”, contou o docente.

 

Márcio Antônio de Oliveira – PRESENTE