Nesta segunda feira, dia 8 de abril, Bolsonaro demitiu o Ministro da Educação Ricardo Velez Rodrigues, colocando em seu lugar o economista Abraham Weintraub. Pelo Twitter o presidente informou a mudança, tendo que corrigir o post logo depois, já que o novo ministro não tem realmente doutorado, como informado. Na verdade, grande parte de sua carreira foi dedicada ao setor privado. Ele tem passagem pelo Banco Votorantim e corretoras financeiras e participou da equipe do governo de transição. Ao lado do irmão, Abraham participou da Cúpula Conservadora das Américas, em dezembro de 2018. A dupla apresentou uma palestra na qual listava estratégias para “vencer o marxismo cultural nas universidades”, na palestra afirmou “Como ganhamos essa batalha? Não sendo chatos. Temos de ser mais engraçados que os comunistas. Como você ganha a juventude? Com humor e inteligência”. Atualmente estava ajudando na tentativa de aprovação da Reforma da Previdência. Seu currículo desperta a dúvida sobre sua capacidade em gerir a educação no país. “É mais um da turma do Olavo de Carvalho, sem experiência nenhuma para o cargo e para piorar um agente do mercado. A saída do ex-ministro Velez não muda em nada a linha do atual governo para o Mec, que é precarizar e destruir a educação pública do país ao mesmo tempo que transfere recursos públicos para a inciativa privada.” disse Augusto Cerqueira da direção da APES.
Três meses de governo com o Mec paralisado
A passagem de Ricardo Velez Rodrigues pelo Ministério da Educação foi uma ilha de intenções retrógradas, cercada de crises, rivalidades, demissões e polêmicas por todos os lados. Indicado pelo não menos polêmico Olavo de Carvalho, se viu no meio de uma guerra entre apoiadores de Bolsonaro, Olavistas, militares e um grupo que defendia uma versão mais técnica ao Ministério, apelidado por Olavo de “os Tucanos”. Velez conseguiu desagradar a todos, até o próprio guru, o que deu sinal verde para sua demissão. Mas antes foram 17 pessoas demitidas nas últimas semanas de um ministério paralisado há três meses. Acompanhe abaixo algumas das polêmicas que conseguiram retirar a Ministra Damares e o próprio Bolsonaro da pauta das redes sociais:
Livro didático sem fonte
Logo de cara, Velez resolveu alterar as regras para compra de material didático. O novo material não precisaria ter obrigatoriamente temas sobre diversidade étnica e cultural no Brasil e sobre violência contra a mulher. Permitia propagandas nos livros escolares. E eliminava a necessidade de referências bibliográficas. Diante da repercussão negativa, o governo acabou voltando atrás.
“Brasileiros viajando são canibais”
Em entrevista à Veja, perguntado sobre o porque de se retornar o ensino de Moral e Cívica nas escolas, o Ministro afirmou que brasileiro viajando “é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola”, disse.
Depois de interpelado criminalmente por um advogado, voltou atrás e pediu desculpas
Hino nas escolas e Deus acima de todos
Em fevereiro, o MEC mandou um e-mail para as instituições de ensino de todo o país, no qual solicitava que professores e alunos fossem filmados cantando o hino nacional na frente da bandeira do Brasil diariamente. O pedido também incluía a leitura de uma carta às crianças, que terminava com o slogan de campanha do governo: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. A repercussão foi nacionalmente negativa. Em todos os cantos do país, a resposta era que as escolas eram autônomas e que as filmagens não poderiam ser feitas sem a autorização dos pais. Ainda houve contestações sobre a inconstitucionalidade da ação. Depois de tentar consertar a situação, o MEC voltou atrás e desistiu do pedido.
Avaliação do ensino básico
Em 25 de março, o MEC chegou a suspender a avaliação do nível de alfabetização das crianças brasileiras por dois anos, segundo publicação no Diário Oficial da União. Mas, após polêmica, revogou a portaria. E voltou atrás.
Mudando a história
Em 4 de abril o Ministro afirmou que queria mudar os livros didáticos para ensinar que não houve golpe em 31 de março de 1964 nem o regime que o sucedeu foi uma ditadura. Para ele “a história brasileira mostra que o 31 de março de 1964 foi uma decisão soberana da sociedade brasileira. Quem colocou o presidente Castelo Branco no poder não foram os quartéis” e sim, segundo Vélez, uma “votação no Congresso, uma instância constitucional, quando há a ausência do presidente”.
Tiroteio no Congresso
Em visita ao Congresso Nacional no dia 27 de Março, Velez foi muito criticado por deputados por não apresentar projetos, mas uma lista de desejos. As imagens correram as redes sociais com congressistas pedindo sua demissão. No mesmo dia, a jornalista Eliane Catanhêde informou no programa “Em Pauta”, da Globo News, que o presidente Bolsonaro havia decidido demiti-lo. O presidente, no entanto, rebateu a jornalista pelo Twitter, dizendo que o furo de reportagem tratava-se de “fakenews”.