APES faz matéria especial sobre vacinação em Juiz de Fora

Nesta matéria especial sobre o início da vacinação em Juiz de Fora, a APES conversou com Augusto Cerqueira, da direção do sindicato; com Hélder Antônio da Silva, Professor do Instituto Federal de Educação – Campus Barbacena, membro do Comitê de Acompanhamento e Avaliação da COVID-19 do IF Sudeste MG e com Rodrigo Daniel de Souza,  Infectologista do HU-UFJF,  Chefe do Setor de Vigilância em Saúde e Segurança do Paciente. 

A Luta pela vacinação nacional e a situação em Juiz de Fora e região:

Como noticiado ontem pela Apes, as primeiras doses da vacina contra a Covid-19 começaram a ser aplicadas em Juiz de Fora e distribuídas pelas 36 cidades que formam a Regional de Saúde. O início da vacinação trouxe esperança e, como afirmou a presidente da Apes, Marina Barbosa, representou o início da vitória da ciência contra a política genocida do atual governo federal. Entretanto, o número de doses disponíveis para aplicação ainda é bastante reduzido e encontra entraves políticos.

Como amplamente divulgado, o governo federal não consegue a liberação de vacinas pela Índia e insumos pela China, o que prejudica a continuidade da vacinação da população brasileira. Este fato, entretanto, é só mais um elemento de gestão da pandemia irresponsável, que nos trouxe ao cenário de mais de 200 mil mortes no Brasil e que, de acordo com especialistas, tende a piorar de forma dramática nos próximos dias. 

Impactos políticos

Assim, a vacinação no país ocorre com atraso, com um plano nacional precário e com forte viés de campanha eleitoral. Segundo o diretor da Apes, Augusto Cerqueira, esta situação traz comoprincipal impacto para sociedade “um número expressivo de mortes decorrentes diretamente desse cenário. Mortes que poderiam ser evitadas através de políticas públicas sérias e articuladas nacionalmente, o que não ocorreu em momento algum. Ou seja, a letalidade e a extensão da pandemia no país é resultado da política genocida de boa parte dos governos de plantão.”

Diante dessa situação, entidades que compõem o Fonasefe organizam um Dia Nacional de Luta, em defesa de vacina para todos, contra a reforma administrativa e contra as privatizações. Como afirma Augusto Cerqueira, “a pandemia explicitou ainda mais a importância dos serviços públicos para a população. Mesmo com grande sucateamento e o avanço da privatização na saúde, se não fosse o SUS e a implementação do auxílio emergencial, a situação seria muito pior. O atendimento de saúde, o início da vacinação e o apoio do Estado à população são viabilizados pelos trabalhadores do serviço público. Não fossem os servidores públicos, o genocídio seria ainda maior, mesmo levando em consideração que o Estado brasileiro vem sendo reduzido e precarizado desde a década de noventa. A reforma administrativa representa a distribuição do serviço público e junto às privatizações, configuram-se como a receita ideal para o aumento da transferência do fundo público para o setor privado, para a precarização dos serviços e das condições de trabalho dos servidores públicos e para a ampliação da desigualdade no país. Sendo assim, o dia nacional de luta configura-se como uma data fundamental de mobilização para toda a classe trabalhadora”.

Vacinação

Para saber como fica a situação da vacinação em Juiz de Fora, Zona da Mata e Campo das Vertentes, conversamos com Hélder Antônio da Silva, Professor do Instituto Federal de Educação – Campus Barbacena, membro do Comitê de Acompanhamento e Avaliação da COVID-19 do IF Sudeste MG, campus Barbacena e do Laboratório de Biologia da Conservação, que produz relatórios periódicos acerca da situação do coronavírus na região. Confira a entrevista:

O que a chegada das primeiras doses de vacina muda no atual cenário da pandemia na Zona da Mata?

Acredito que não muda muito, infelizmente. Os números estão elevados, as vacinas ainda levam tempo para começar a fazer o efeito necessário, ainda levam tempo para conter a crescente pandemia em termos de números. Ou seja, a imunização, nesse primeiro momento, não acontece, a primeira dose vai primeiro fazer com que as pessoas tenham um início de imunização, leva 7 dias, mais ou menos, para começar a fazer o primeiro efeito. Na sequência, ainda vai ter a segunda dose e aí depois de um tempo é que vai ter realmente o resultado da imunização. Então, o efeito dessas primeiras doses, podem ser, inclusive, o contrário do que a gente espera. Infelizmente as pessoas podem chegar à conclusão de que estão vacinadas, não estando imunizadas e, por exemplo, as pessoas que moram com pessoas idosas, essas vão receber a vacina, acima de 70, 80 anos… Então, vamos supor: a pessoa mora com uma senhora de 80 anos e aí a senhora de 80 anos foi vacinada, a primeira dose, e aí a pessoa acha que a senhora está imunizada, “ela está imunizada, eu posso sair para qualquer lugar, fazer o que eu quiser, se eu pegar Covid, para mim não vai ter problema, mas ela não vai pegar Covid”. Na verdade, não é bem assim. As restrições da onda vermelha devem permanecer por algum tempo, porque infelizmente os números estão elevados e vão se manter elevados por algum tempo.

Então, aqui na Zona da Mata e Campo das Vertentes, esses números são cada vez mais altos. É necessário manter uma restrição no comércio, em termos de abertura; uma fiscalização muito forte, para que não haja aglomeração e isso deve permanecer por um tempo relativamente grande, porque realmente é complicada essa situação e ela vai se manter por algum tempo. Nesse primeiro momento as primeiras doses são uma esperança muito grande, as pessoas podem confundir isso e achar que estão imunizadas e não praticar mais os protocolos de higiene e de isolamento e começar a ter números maiores, como temos visto por aí.

As controvérsias sobre o plano nacional de vacinação serão sanadas com planos municipais?

As controvérsias do plano nacional não serão sanadas com os planos municipais. As primeiras doses estão sendo aplicadas nas pessoas da área de saúde, o que é muito bom; nas pessoas idosas acima de 75 anos, que também precisam; mas o grande problema é que ficamos dependendo do envio dos insumos estrangeiros, principalmente da China, para que essas vacinas continuem sendo produzidas. E aí, o grande gargalo é justamente os entraves burocráticos e políticos criados por esse governo na chegada desses insumos. E se não tivermos esses insumos para dar continuidade à produção das vacinas, infelizmente os planos tendem a sofrer atrasos. Por mais que os prefeitos busquem alternativas… A não ser que busquem por outras vacinas que não estas que estão sendo disponibilizadas no momento e que foram liberadas pela Anvisa. E eu acho que seja pouco provável que sejam liberadas outras vacinas que não foram testadas no Brasil, que é caso da Sputnik, mesmo tendo uma demanda judicial colocada pelo governador do estado da Bahia no Supremo Tribunal Federal. Mas não é factível e também não é seguro. Então vamos ter essa dependência da chegada dos insumos e as controvérsias, então, tendem a aumentar. Porque governadores e prefeitos vão querer tomar alguma decisão paliativa ou alternativa ao problema que vem sendo apresentado pela falta de agilidade do governo federal em conseguir a liberação dos insumos pela China e as vacinas da AstraZeneca pela Índia. Isso vai colocar em cheque os protocolos para a vacinação do povo em geral. As controvérsias vão aumentar. Vemos que o governo [federal] ficou parado, era para ter agilizado esta entrega, e agora não tem mais o que fazer. É aguardar e torcer para que chegue rápido. 

Porque é importante que todos  sejam vacinados?

A vacinação é importante em todos os sentidos, principalmente na preservação da vida, que é o grande foco. Não temos tratamento para essa doença, que seja minimamente eficaz. Não existe outra alternativa. Em termos de economia, que eu domino um pouco mais, as vacinas vão ser a forma com quem nós temos para reduzir os grandes problemas econômicos e obviamente sociais. A escalada da inflação, que tem sido apontada, o aumento do dólar, e vários outros problemas, não serão resolvidos senão pela vacina. E também não será uma solução rápida. Mas a vacinação é importante principalmente para a retomada das atividades produtivas de forma mais ampla e minimizar os impactos social e econômico da pandemia. É possível que depois que todas as pessoas estejam vacinadas, imunizadas, haja uma retomada de empregos, surjam novas oportunidades de negócios, é possível que isso aconteça. Mas sem a vacina, isso não vai acontecer. A importância da vacina, é, primeiro, preservar as vidas, e na segunda alternativa, é buscar cada vez mais ter essas pessoas imunizadas para que haja um mínimo da retomada das indústrias, do comércio, para que as coisas possam retomar um pouco a normalidade. Eu acredito que essa pandemia vai ainda ter reflexos muito fortes na economia, mas a imunização das pessoas vai minimizar os impactos sociais. E a vacina é a única forma de prevenção contra essa doença. É o único tratamento é a prevenção, não existe cura, não existe medicamentos. Não existe outra forma de sairmos dessa pandemia. E quem acha o contrário vai estar totalmente enganado. As pessoas falam: se eu tomar essa vacina, vou ter tais problemas. Problemas você já está tendo! Problema já é o isolamento social causado pela pandemia, é por conta desse isolamento social a economia, que já não estava boa, está péssima e tende a ficar pior ainda, e com a vacinação a tendência é minimizar os impactos. Sem vacina não há forma de retorno minimamente às condições próximas da normalidade. As pessoas têm que se conscientizar de que a vacina é a única solução para a Covid-19. 

Para saber das perspectivas da vacinação na cidade de Juiz de Fora, confira entrevista Rodrigo Daniel de Souza, Infectologista do HU-UFJF,  Chefe do Setor de Vigilância em Saúde e Segurança do Paciente.

O que a chegada das primeiras doses de vacina muda no atual cenário da pandemia na cidade de Juiz de Fora?

As primeiras doses, considerando o público alvo definido, devem garantir a manutenção da assistência à saúde ao vacinar os profissionais de saúde mais expostos e evitar surtos em instituições de longa permanência para idosos.

Com algumas controvérsias no plano federal de vacinação, como será o plano de vacinação em Juiz de Fora?

Não entendi as controvérsias que menciona. Neste momento a escolha dos grupos prioritário no plano nacional está adequado e alinhado com o estadual e municipal.

Temos alguma perspectiva sobre quando teremos vacinas para todos na cidade?

Não há perspectiva concreta para se conseguir vacinas para todos. Tanto o instituto Butantan, quanto a Fiocruz estão relatando dificuldades operacionais que estão fora de sua governança.