A APES, associação que representa os professores e as professoras da Universidade Federal de Juiz de Fora e do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais, vem a público repudiar e cobrar ações da Câmara Municipal de Juiz de Fora quanto ao conteúdo veiculado no Instagram do Vereador Carlos Alberto de Mello (PTB), que adota o codinome de Sargento Mello Casal, na última sexta-feira, 26 de março de 2021, referente à live realizada em conjunto com o ex-Deputado Federal e atual presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson.
O mote do vídeo é o ataque à Prefeitura de Juiz de Fora, à Universidade Pública e a diversas outras instituições públicas da cidade, com base no negacionismo, difundido por um grupo político que se recusa a admitir as recomendações científicas de combate à pandemia. O Vereador e o ex-Deputado Federal atacam a legitimidade do conhecimento científico reiteradamente ao longo do vídeo, demonstrando o caráter político e desprovido de embasamento de suas ofensas.
A APES repudia veementemente o conteúdo veiculado pelo referido Vereador, que se apoia na ignorância, na desinformação e no discurso de ódio. Em diversos momentos do material divulgado, são proferidas declarações criminosas, preconceituosas, homofóbicas, levianas e antidemocráticas, que agridem e difamam diversas instituições e pessoas, incluindo a Prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão, e sua equipe de governo, a Universidade Federal de Juiz de Fora, seus servidores, servidoras e estudantes, bem como o conjunto dos servidores e das servidoras municipais, estaduais e federais, na linha do discurso violento da extrema-direita que ganhou vulto nos últimos anos, com a ascensão ao poder de Jair Bolsonaro e seus aliados políticos.
É estarrecedor que membros de casas legislativas incitem a população à sedição, conclamando a formação de milícias armadas para agredir a Guarda Municipal de Juiz de Fora, com recomendações de técnicas militares de combate que podem causar lesões e ferimentos graves em servidores e servidoras municipais que, na execução do seu trabalho, cumprem recomendações do Governo do Estado de Minas Gerais para a redução do contágio viral.
A Universidade Federal de Juiz de Fora é mencionada nominalmente em um compêndio de lugares comuns preconceituosos que esse mesmo grupo político cotidianamente endereça às universidades, à cultura e à inteligência. Como recurso retórico, são oferecidos números fantasiosos e custos deturpados sobre os gastos da UFJF, combinados com absoluto desconhecimento da composição social da comunidade acadêmica.
São replicadas mentiras sobre o sistema de ensino, a formação de professores e professoras e a educação oferecida aos alunos e às alunas, reforçando uma campanha orquestrada contra o magistério. Um discurso agressivo, mentiroso e preconceituoso, baseado em fantasias vis sobre uma alegada doutrinação, nunca apresentada ou comprovada.
O Ministério Público, ao fiscalizar o cumprimento da regulamentação estadual das medidas restritivas, também é alvo de ataques. Mais uma vez é reforçada a visão distorcida sobre a educação superior e particularmente sobre a dinâmica da universidade pública, identificada como a raiz do comportamento de advogados, de promotores e de juízes que não aderem à sua campanha que nega a ciência e o direito à vida e que não contribuem com sua campanha permanente de destruição do ambiente democrático.
Diante de tamanho volume de ofensas infundadas e absolutamente desconectadas da realidade do ensino, da pesquisa e da extensão, promovidos pela universidade pública em geral, e da Universidade Federal de Juiz de Fora em particular, poderíamos supor que se trata de completo desconhecimento da realidade do ambiente acadêmico. Não é o caso. Os ataques partem de um grupo que tem na agressão à cultura e à produção do conhecimento um dos pilares de sua tática política de degradação do ambiente democrático para a consolidação de uma ordem autoritária. Buscam no arbítrio, na truculência e na eliminação do debate o caminho para a imposição de interesses que não podem expor abertamente, sob pena de rechaço completo de amplos setores da sociedade. É evidente que um projeto com tais características tem na universidade pública, de qualidade e socialmente referenciada, um obstáculo dos mais robustos à sua plena execução. Os ataques retóricos são a outra face de um projeto de estrangulamento da universidade, que tem como base material o corte de dotação orçamentária e a intervenção autoritária nas instâncias administrativas. A comunidade acadêmica não será silenciada, a APES está atenta e atuante na defesa de uma UFJF autônoma, e contra essa campanha de intimidação.
A APES coloca-se de forma intransigente na defesa da UFJF e de toda a comunidade universitária, destacando o seu papel social e sua importância para a cidade de Juiz de Fora. A Universidade Federal de Juiz de Fora é uma das instituições mais importantes da cidade, reconhecida nacional e internacionalmente pela excelência, configurando-se como uma das melhores universidades do país. Também tem um papel importantíssimo em Governador Valadares, cidade que conta com um campus da UFJF. Adicionalmente, nos solidarizamos com as demais instituições públicas e com os servidores e as servidoras, trabalhadores e trabalhadoras que prestam os serviços mais fundamentais à população, atacados no material veiculado pelo vereador.
A APES, ao longo de seus mais de 40 anos de história, defende a liberdade de expressão, de ampla manifestação e as liberdades democráticas, e por essa história temos o dever de combater, de repudiar e de cobrar ações enérgicas das instituições democráticas, que têm como destaque, na cidade de Juiz de Fora, a Câmara Municipal. Entendemos ser necessária uma ação rápida da Câmara Municipal em defesa da democracia, das instituições públicas da cidade e de seus servidores e servidoras, afinal o vereador é um representante da Casa e o seu comportamento, suas opiniões e suas ações podem ser compreendidas como sendo dessa Casa Legislativa.