Marcando o dia 24 de janeiro como o dia Nacional das Aposentadas e dos Aposentados, a APES conversou com dois docentes atuantes dentro da APES. A professora Ana Maria Arreguy Mourão, aposentada da Faculdade de Serviço Social da UFJF e 1ª Secretária da atual diretoria do sindicato, e Custódio Gouveia Lopes da Motta, aposentado da Faculdade de Engenharia da UFJF e integrante do conselho da APES.
Confira
1 – Como é ser aposentada numa época de tantos ataques aos direitos dos trabalhadores?
Ana – Vivemos hoje num dos piores contextos social em nosso país, governado por um grupo de políticos sem nenhum compromisso com os direitos sociais e políticos conquistados pelos trabalhadores através de suas lutas coletivas.
Viver nesta conjuntura, como aposentada em tempos menos cruéis, nos leva, na minha opinião, a engajar nas lutas da sociedade civil organizada.
Torna-se um dever cívico.
2 – Como os docentes aposentados podem participar da luta sindical?
Ana –Na cultura no Brasil sobre o idoso, o aposentado é aquele que não trabalha, prima pelo desrespeito, indiferença, que infelizmente absorvem estes perfis, tornando passivos e até mesmo subservientes ao processo social.
Penso que esta postura de luta passa por um processo de mudança cultural e, certamente, envolve a educação, desde o ensino fundamental ao superior, com debates e disciplinas especificas.
Até mesmo na Universidade, os professores aposentados demonstram muitas vezes se sentirem “fora da Instituição”
Acredito ser possível mudar este quadro a médio e longo prazo, buscando a mudança de mentalidade dos movimentos sociais organizados e de todo o povo brasileiro
3 – A sociedade sempre tendeu a desvalorizar o aposentado e a aposentada. Como vê o tratamento que governo e sociedade dão a essa categoria?
Ana –Os aposentados são vistos pelo governo, e a sociedade de modo geral, como aqueles que dão despesa a Previdência Social, sem nenhum respeito e consideração.
E não como direito de quem trabalhou um tempo exigido pela legislação.
Na área da Educação, em que bons professores formam e educam cidadãs e cidadãos para participarem de uma vida social digna, são os mais prejudicados.
Educação é tratada como mercadoria e nesse sentido os aposentados são dispensáveis.
4 – Como o cotidiano foi afetado pela pandemia do Corona Vírus? Como enxerga esse momento dentro da sociedade e seus governantes?
Ana –A pandemia pegou todo o planeta de surpresa e o caos se instalou, principalmente no Brasil.
O governo em que vivemos, sem nenhuma sensibilidade, competência e humanidade, não quis enfrentar esta tragédia em sua dimensão.
Negou sua gravidade e colaborou para a mortalidade, até hoje, para mais de 200mil pessoas.
Estamos vivendo tempos sombrios, principalmente para o povo desassistido, pela falta de organização e planejamento da saúde pública pelo governo.
O governo continua indiferente a situações desumanas acontecendo e nenhuma assistência prestada.
A pressão feita pelos grupos sociais organizados não encontra eco nas instituições passíveis de tomar providências para acabar com esta miséria humana em que vivemos neste país, permanecem inertes.
1 – Como é ser aposentado numa época de tantos ataques aos direitos dos trabalhadores?
Custódio – Em razão de ter tido o direito de me aposentar com paridade e integralidade, até o momento, sofro os mesmos ataques que os colegas da ativa. Uma preocupação que, acredito, possa ser da maioria dos colegas, é o aumento da inflação que vem pressionando os salários congelados desde 2015 (quando foi pago a última parcela do acordo de correção salarial para as IFE’s).
2 – Como os docentes aposentados podem participar da luta sindical?
Custódio – Muito difícil responder essa pergunta. Na minha opinião, excetuando o grupo de docentes que sempre participou, os demais, aposentados ou não, relutam em se sindicalizar. Acredito que alguns considerem o valor da contribuição sindical alta demais, outros são vítimas das propagandas mais recentes contra os sindicatos. No caso específico dos aposentados, deve-se considerar que a maioria não ganha muito bem e a contribuição sindical faz diferença. Além disso, a maioria dos nossos aposentados são sindicalizados por causa do plano de saúde. Talvez seja o caso de o sindicato considerar fornecer mais benefícios aos docentes do que luta sindical.
3 – A sociedade sempre tendeu a desvalorizar o aposentado e a aposentada. Como vê o tratamento que governo e sociedade dão a essa categoria?
Custódio – O atual governo, que não serve de padrão, se pudesse, deixava de me pagar a aposentadoria. Mas um outro governo que sirva de padrão, pelo que vimos durante toda a vida profissional, faria de tudo para achatar a minha aposentadoria.
4 – Como o cotidiano foi afetado pela pandemia do Corona Vírus? Como enxerga esse momento dentro da sociedade e seus governantes?
Custódio – Embora seja possível vivenciar razoavelmente uma rotina planejada, de forma individual, a pandemia afetou demais o meu cotidiano. Seja pelo distanciamento social, pelos cuidados constantes para não me contaminar, pela expectativa de cura da sociedade pelas vacinas, pela total incompetência do governo e pelo medo de que algum querido se contaminar.
Um país pobre, com um índice de desemprego absurdo, níveis de educação e cultura baixíssimos e um governo federal totalmente incompetente, se traduz, de uma maneira geral, numa sociedade inconsequente.