A UFJF deverá abrigar o Memorial Gabriel Salles Pimenta, advogado defensor de trabalhadores, assassinado na cidade paraense de Marabá, em 1982. A criação do Memorial é uma das determinações das Cláusulas de Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que reafirmou a responsabilidade do Estado Brasileiro no caso. A informação é do professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF, Daniel Salles Pimenta, irmão de Gabriel. Segundo ele, a Prefeitura de Juiz de Fora, a Universidade e o Assessor Especial do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Nilmário Miranda, estão de acordo com a vinda do memorial para Juiz de Fora.
Daniel relata que Gabriel estava no meio do Furacão de Serra Pelada, ajudando sindicatos e defendendo trabalhadores, fazendo campanha política dentro de Serra Pelada, defendendo candidatos que se opunham ao poder político dos poderosos. “Meu irmão era uma pessoa fora da curva, um revolucionário, que ajudou as famílias, ganhando causas na justiça, coisa inédita, enfrentando poderosos. Estava jurado de morte pelo poder político local e abandonado pela igreja que achava que ele era comunista. A importância dele no momento foi reconhecida por todos no local onde ele foi morto, em uma região que era um caldeirão de pólvora”.
Para entender o caso, segue o texto de uma matéria do TRAVESSIA 89, de agosto de 2013:
“No dia 22 de julho de 1982, por volta das 23h, Gabriel foi assassinado com três tiros nas costas em uma rua movimentada de Marabá. Tinha 27 anos. O advogado foi alvejado quando saía de um restaurante após participar da convenção do PMDB. A verdade sobre o assassinato foi desnudada imediatamente. As ameaças contra Gabriel já eram conhecidas. Os três criminosos foram identificados pela polícia. O executor dos disparos, Crescêncio Oliveira de Sousa, era um “matador profissional”, contratado por intermédio de José Pereira da Nóbrega, conhecido por Marinheiro. O mandante do crime foi o latifundiário Manoel Cardoso Neto, ou Nelito, irmão do ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso. Nelito e Marinheiro chegaram a ser detidos por alguns dias para a investigação. No entanto, foram logo libertados”.
Gabriel foi alvo em função de seu trabalho em prol de trabalhadores rurais e a matéria segue revelando o motivo do assassinato:
“Em 1981, Gabriel havia conquistado uma vitória judicial inédita no Pará, o que motivou o assassinato. Por meio de um mandado de segurança, o advogado havia cancelado uma medida cautelar que tinha provocado o despejo de 158 famílias da fazenda “Pau Seco”. Os camponeses conseguiram retornar para a terra. A ação penal contra os assassinos de Gabriel só foi instaurada em 1983, e tramitou durante 24 anos. Marinheiro e o executor foram mortos antes de serem punidos. Nelito ficou foragido por anos. O fazendeiro foi capturado pela polícia na iminência da prescrição do crime e permaneceu impune”.