Um grupo de pesquisa do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF teve aprovado auxílio financeiro submetido à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), na intenção de tornar mais ágil o processo de diagnóstico da Covid-19 e, consequentemente, possibilitar uma maior testagem e uma mais rápida liberação dos resultados.
O exame PCR em tempo real é, atualmente, a técnica aplicada nos laboratórios da UFJF, possibilitando a execução de cerca de 100 testes diariamente. Mas, segundo os pesquisadores do grupo, a técnica faz uso de insumos específicos e de alto custo, o que acaba por limitar a capacidade de testagem. Com a técnica que será desenvolvida pelo grupo de pesquisa, se pretende uma maior agilidade nesse processo, já que os insumos para a realização de testes são mais baratos e de reação mais rápida. “Trata-se de uma reação onde amplificamos o material genético do vírus, só que em uma dada temperatura. A reação é rápida, acontecendo de 15 a 60 minutos. Ela é de baixo custo, uma vez que não precisamos de equipamentos sofisticados para a realização do teste e muito menos de equipamentos para interpretação dos resultados. Uma vez que é uma reação se for positivo, ela muda de cor no tubo e, assim, a interpretação é visual,” explica o coordenador do grupo de pesquisa e professor no Departamento de Biologia da UFJF, professor Carlos Magno da Costa Maranduba.
A Amplificação Isotérmica (LAMP, na sigla em inglês) já foi usada anteriormente para a detecção do zika vírus e H1N1. O desafio dos pesquisadores será aplicar a técnica à COVID-19. Segundo Carlos, com o financiamento público aprovado, os próximos passos são a “aquisição dos insumos e padronização da técnica com o conjunto de marcadores virais, os quais iremos comparar inicialmente com dados do PCR tempo real para avaliarmos a eficiência da técnica”. O que deverá ser feito o mais rápido possível, já que, uma vez aplicada na saúde pública, além de agilizar os processos de testagem, possibilitará uma atenção clínica mais adequada.
Agências de fomento e o caráter público da pesquisa brasileira
Nos últimos anos, vem se acentuando na universidade pública um processo de precarização das condições de pesquisa, com cortes no financiamento dos programas de pós-graduação e cortes de bolsas aos pós-graduandos, que muitas vezes dependem desse financiamento para a continuidade de sua pesquisa. Isso se acentua ainda mais durante a pandemia do coronavirus, um momento em que o financiamento público para a pesquisa se torna fundamental no combate à pandemia.
É nesse cenário que se coloca a importância de projetos como esse. Segundo Carlos, “o apoio das agências de fomento é vital para que projetos de pesquisa deem o retorno que a sociedade tanto necessita. É fundamental que desenvolvamos know-how brasileiro, diminuindo a dependência de tecnologia estrangeira. Prova disso é a escassez de insumos e equipamentos para a saúde a nível mundial para enfrentamento da Covid-19.” Para além disso, o fomento à pesquisa posiciona as universidades públicas brasileiras e o Brasil no campo do desenvolvimento científico, como explica Carlos: “o apoio financeiro a pesquisadores brasileiros coloca o Brasil em destaque com suas instituições, como mostrado em recente ranqueamento das universidades, tendo a UFJF seu papel de destaque.”
O financiamento junto à Fapemig tem duração de 12 meses e a pesquisa não se limita ao coronavírus.”A viabilização da implantação da técnica como rotina de diagnóstico poderá ser estendida também a outras doenças, quem sabe para dengue, além do novo coronavírus, zika vírus e H1N1.”, explica Carlos.