Seminário “Ditadura, Sindicato e Resistência” fez o debate dos 60 anos do Golpe

A APES promoveu, na última sexta-feira dia 12 de abril, o Seminário “Ditadura, sindicato e resistência”, mediado pela diretora da APES, Joana Machado, com os convidados Gustavo Seferian, Presidente do ANDES-SN, Luiz Flávio Rainho, professor aposentado da UFJF, preso político na ditadura, e o historiador João Gabriel Ronsini.

O evento discutiu o tema de diferentes abordagens, começando com o historiador João Gabriel Ronsini, apresentando sua recente pesquisa sobre a repressão nos sindicatos. Ele relembrou o contexto histórico antes e durante o Golpe de 1964, falou sobre as instituições de repressão na cidade de Juiz de Fora e sobre os ataques aos sindicalistas.

A partir de dados retirados do relatório da Comissão Nacional da Verdade de 2012, relatou que Juiz de Fora teve quatro locais de repressão: 2º Batalhão de Infantaria Militar, 10º Regimento de Infantaria de Juiz de Fora, Penitenciária de Linhares e o Quartel General da 4ª Região Militar, de onde saíram as tropas de Olímpio Mourão em direção ao Rio de Janeiro, no dia 01 de abril de 1964. Os dados da Comissão Municipal da Verdade ainda apontaram a Delegacia da Polícia Civil como o quinto local com indícios de violação aos direitos humanos.

Os relatórios ainda apontaram que a Auditoria Militar, onde atualmente é o 4º depósito de suprimentos, localizada na Praça Antônio Carlos, foi o local de condenação de diversos estudantes, sindicalistas e pessoas com qualquer ligação com os movimentos sociais. Os dados demonstram que a repressão não foi restrita às cidades grandes, mas também às cidades de médio e pequeno porte.

O historiador disse “foi um golpe de classe, contra a classe trabalhadora”, sendo articulado antes do dia 01 de abril de 1964. Para isso, militares foram infiltrados nos movimentos sindicais antes de 1964, com o objetivo de desmantelar estas entidades.

O professor aposentado da UFJF, um dos fundadores da APES, resistente à ditadura e preso político, Luiz Flávio Rainho, afirmou que “a APES surgiu contra a ditadura, num momento em que não podíamos nos organizar, nas dependências da Universidade. A APES foi uma das primeiras associações a deflagrar a greve durante a ditadura, algo que era definitivamente proibido, além de ter dado uma contribuição na fundação do ANDES-SN”.

O professor Rainho relembrou que, durante a ditadura, ele estava começando a carreira docente e, na época, havia o cerceamento do pensamento e da livre expressão. Não se podia falar de diversos pensadores, reconhecidos mundialmente, que formam a base da filosofia e da sociologia. Por conta disso, vários estudantes e professores foram torturados e mortos no período.

Rainho destacou a existência das pesquisas importantes sobre a ditadura na Universidade, porém, para ele,  o período ainda não acabou. Disse ser  preciso entender que  Bolsonaro e diversos deputados e senadores são frutos da ditadura. Esses “filhos” da ditadura estão chegando ao poder, não como em 1964, através de tanques, mas sim pelo voto, de maneira legalizada. 

O professor da UFMG e presidente do ANDES-SN, Gustavo Seferian, falou sobre as parcelas da sociedade que não são tão comentadas como vítimas da ditadura, como a população camponesa. De acordo com dados da Comissão Camponesa da Verdade, o número de vítimas extrapola em quatro vezes o número apresentado na Comissão Nacional da Verdade. 

Gustavo Seferian enfatizou que o Golpe de 64 foi de natureza de classe, principalmente com auxílio dos agentes do capital. Empresas das mais diversas categorias que viveram e ainda vivem a partir de uma exploração do trabalho e da destruição da natureza participaram da organização e da manutenção da ditadura.

Seferian destacou a importância do movimentos sindicais no pós-ditadura, pois diversos movimentos sociais de naturezas diferentes foram criados a partir do sindicalismo: “o movimento sindical serviu de indutor a muita luta social no período da redemocratização formal do nosso país, indiferente do local [do Brasil]. Ele foi vanguardista nesse processo de redemocratização”. 

O presidente do ANDES-SN finalizou o seminário apontando os eixos fundamentais da luta contra a ditadura: “Memória, verdade, justiça e reparação”. Além disso, ressaltou a importância da promoção de políticas públicas para que as atrocidades contra os direitos humanos não se repitam, “Tudo aquilo que a gente teve de desastre, os escombros do passado, eles pode voltar”.

O evento finalizou com o lançamento do livro “60 anos do Golpe: gerações em Luta”, com diversos autores que enfrentaram a Ditadura Militar nos seus 21 anos de duração.  

Nossa geração teve pouco tempo

começou pelo fim

mas foi bela a nossa procura

ah! moça, como foi bela a nossa procura

mesmo com tanta ilusão perdida

quebrada,

mesmo com tanto caco de sonho

onde até hoje

a gente se corta.

Alex Polari – autor e preso político na ditadura